Cheguei a Phnom Phen completamente exausto, depois de uma viagem completamente surrealista desde Saigon, bem ao estilo asiatico. Na noite anterior embarquei por volta das 23h00 no BUS que me iria trazer a Phnom Phen. Em teoria o autocarro deveria sair as 23h30 , mas afinal so saimos de Saigon por volta da 01h30. La comecamos a andar mas passados 20 minutos o autocarro parou em frente a um edificio para que os senhores motoristas fizessem uma massagem. Chegamos a fronteira por volta das 03h00 e depois do autocarro parar e de desligarem o A/C e que nos disseram que a fronteira so abria por volta das 06h00. Ja completamente molhado em suor, tive de passar estas horas a andar de um lado para o outro a volta do autocarro, pois os motoristas nem ve-los. Demoramos 2 horas para fazer o controlo de passaportes e tratar do visto (VOA). Comecamos a andar mas assim que passamos uma zona urbana la paramos outra vez para a malta tomar o pequeno almoco. De ai foi sempre a andar, muito lentamente por causa da ma condicao das estradas que muitas vezes nem asfalto tinham. Cheguei a Phnom Phen por volta do meio dia. Demorei cerca de 11 horas para precorrer 210 km, foi a viagem mais dura que tive ate agora durante toda viagem. A companhia de autocarros Vicathai, nem pensar nela...
Phnom Phen e a capital do Cambodja e tem cerca de 2 milhoes de habitantes. A cidade em si e muito pobre e nao e muito bonita para se visitar. As atraccoes turisticas desta cidade sao basicamente os killing fields do Khmer Rouge e a prisao S-21, a antiga escola secundaria onde o regime do Khmer Rouge torturava e matava os seus prisioneiros.
Passei a tarde a deambular pelas ruas da cidade, onde pude contactar pela primeira vez com a extrema simpatia da populacao do Cambodja. Foi amor a primeira vista, apesar da extrema pobreza e de se ver muita gente mutilada pelas minas nas ruas, fiquei completamente impressionado com a hospitalidade das pessoas. Alem disso as criancas sao muito divertidas e por onde quer que passes dizem-te sempre "hello".
Quando estava a caminhar pelas margens do rio Mekong (um sitio fabuloso para passar o fim da tarde e ver o por do sol), cruzei-me com um grupo de 6 monges budistas (a maioria nao tinha mais de 13, 14 anos) que estavam a conversa com um rapaz alemao num banco junto ao rio. Juntei-me a eles e passei o resto da tarde a conversar acerca da vida no Cambodja. Perguntei ao monge mais velho (cerca de 22 anos) porque e que eram tao felizes e sempre estavam a sorrir, depois de todas as atrocidades de que foram victimas por parte do Khmer Rouge. Ele respondeu-me com inspiracao, que e o que acontece quando tiram a liberdade de sorrir e cantar a uma populacao. Eles agora podem rir sem que ninguem os mate, ou torture por isso. Disse-me que finalmente sao um pais livre e tem liberdade para expressar os seus sentimentos mais profundos. No fim da tarde fui convidado pelos monges para os visitar no dia seguinte e aprender um pouco de meditacao no templo onde viviam, oferta que tristemente recusei pois nao tinha muito tempo na cidade e para isso precisaria de alguns dias. Convidei-os a beber uma coca-cola ali em plena rua, a qual aceitaram sem pestanejar. Quando estava a distribuir as latas, aprendi que a um monge budista se lhe ofereces alguma coisa tens de o fazer com as duas maos, senao nao podem aceitar. Fiquei contente pela alegria que dei a estes rapazes, que apesar de terem enverdado pelo caminho espiritual, nao deixam de ter a ingenuidade e gratificacao de uma crianca propria da sua idade. Despediram-se de mim mas antes honraram-me a mim e a minha viagem com a sua bencao. Disseram-me que algum dia gostariam de conhecer o mundo tal como estou a fazer e fiquei a pensar nisso, pois sei que num pais como este, viajar pelo mundo e uma grande utopia e quase com toda a certeza do mundo que estas nao serao nunca mais nada do que apenas palavras...
Jantei por ali com o meu novo amigo alemao e fui dormir pois estava completamente exausto da viagem e do calor que se sente nesta cidade. Engracado que no hotel nao tinha nem agua quente nem lencois na cama, apenas um resguardo, mas depois constatei que com o calor que faz por aqui nao sao necessarias nenhuma das duas coisas, apenas uma ventoinha e um pouco de paciencia para adormecer...
Phnom Phen e a capital do Cambodja e tem cerca de 2 milhoes de habitantes. A cidade em si e muito pobre e nao e muito bonita para se visitar. As atraccoes turisticas desta cidade sao basicamente os killing fields do Khmer Rouge e a prisao S-21, a antiga escola secundaria onde o regime do Khmer Rouge torturava e matava os seus prisioneiros.
Passei a tarde a deambular pelas ruas da cidade, onde pude contactar pela primeira vez com a extrema simpatia da populacao do Cambodja. Foi amor a primeira vista, apesar da extrema pobreza e de se ver muita gente mutilada pelas minas nas ruas, fiquei completamente impressionado com a hospitalidade das pessoas. Alem disso as criancas sao muito divertidas e por onde quer que passes dizem-te sempre "hello".
Quando estava a caminhar pelas margens do rio Mekong (um sitio fabuloso para passar o fim da tarde e ver o por do sol), cruzei-me com um grupo de 6 monges budistas (a maioria nao tinha mais de 13, 14 anos) que estavam a conversa com um rapaz alemao num banco junto ao rio. Juntei-me a eles e passei o resto da tarde a conversar acerca da vida no Cambodja. Perguntei ao monge mais velho (cerca de 22 anos) porque e que eram tao felizes e sempre estavam a sorrir, depois de todas as atrocidades de que foram victimas por parte do Khmer Rouge. Ele respondeu-me com inspiracao, que e o que acontece quando tiram a liberdade de sorrir e cantar a uma populacao. Eles agora podem rir sem que ninguem os mate, ou torture por isso. Disse-me que finalmente sao um pais livre e tem liberdade para expressar os seus sentimentos mais profundos. No fim da tarde fui convidado pelos monges para os visitar no dia seguinte e aprender um pouco de meditacao no templo onde viviam, oferta que tristemente recusei pois nao tinha muito tempo na cidade e para isso precisaria de alguns dias. Convidei-os a beber uma coca-cola ali em plena rua, a qual aceitaram sem pestanejar. Quando estava a distribuir as latas, aprendi que a um monge budista se lhe ofereces alguma coisa tens de o fazer com as duas maos, senao nao podem aceitar. Fiquei contente pela alegria que dei a estes rapazes, que apesar de terem enverdado pelo caminho espiritual, nao deixam de ter a ingenuidade e gratificacao de uma crianca propria da sua idade. Despediram-se de mim mas antes honraram-me a mim e a minha viagem com a sua bencao. Disseram-me que algum dia gostariam de conhecer o mundo tal como estou a fazer e fiquei a pensar nisso, pois sei que num pais como este, viajar pelo mundo e uma grande utopia e quase com toda a certeza do mundo que estas nao serao nunca mais nada do que apenas palavras...
Jantei por ali com o meu novo amigo alemao e fui dormir pois estava completamente exausto da viagem e do calor que se sente nesta cidade. Engracado que no hotel nao tinha nem agua quente nem lencois na cama, apenas um resguardo, mas depois constatei que com o calor que faz por aqui nao sao necessarias nenhuma das duas coisas, apenas uma ventoinha e um pouco de paciencia para adormecer...
Prisao S-21
Na manha seguinte acordei cedo e fui a caminhar ate ao Tuol Sleng Genocide Museum tambem conhecido por prisao de seguranca 21 ou S-21. Este edifico antes da invasao do regime comunista do Khmer Rouge albergava uma escola secundaria. Foi aqui que a maior parte das torturas e interrogatorios foram levado a cabo pelos soldados do Khmer Rouge e quem passava por aqui tinha o seu destino tracado de acabar numa vala comum nos killing fields apenas a 15 km da cidade. Quando cheguei a prisao a primeira coisa que fiz foi ir ver o video documental que explica um pouco a historia do regime comunista do Khmer Rouge.
Na manha seguinte acordei cedo e fui a caminhar ate ao Tuol Sleng Genocide Museum tambem conhecido por prisao de seguranca 21 ou S-21. Este edifico antes da invasao do regime comunista do Khmer Rouge albergava uma escola secundaria. Foi aqui que a maior parte das torturas e interrogatorios foram levado a cabo pelos soldados do Khmer Rouge e quem passava por aqui tinha o seu destino tracado de acabar numa vala comum nos killing fields apenas a 15 km da cidade. Quando cheguei a prisao a primeira coisa que fiz foi ir ver o video documental que explica um pouco a historia do regime comunista do Khmer Rouge.
Tinham-me aconselhado a pagar um guia para fazer a visita a prisao e foi o que fiz (2USD). A nossa guia era uma senhora na casa dos 40 que tinha sido victima do regime pois alem de ser instruida, tambem vivia em Phnom Phen quando o Khmer Rouge invadiu a cidade e evacuou toda a populacao. Ela contou-nos que tinha estado 3 anos a trabalhar nos campos de arroz e pudemos ver algumas cicatrizes que tinha na perna devido a cacetadas que levava de vez em quando com pau de bambu. Durante o regime o exercito do Khmer Rouge matou os seus pais e a sua irma. Das cerca de 18.000 victimas que passaram por esta prisao, apenas sobreviveram 7 prisioneiros, os quais sao na sua totalidade artistas usados pelo Khmer Rouge para fazer os trabalhos que eles eram incapazes de realizar para a propaganda do Pol Pot, tais como fotografia, pintura e escultura, traduzidos em retratos e estatuas do sr. Pol Pot...
A prisao e composta por 4 blocos A, B, C e D. A visita comeca no bloco A. Todas as fotos que existem hoje em dia foram deixadas para tras pelos soldados do regime, pois nao tiveram tempo de destruir as provas.
A prisao e composta por 4 blocos A, B, C e D. A visita comeca no bloco A. Todas as fotos que existem hoje em dia foram deixadas para tras pelos soldados do regime, pois nao tiveram tempo de destruir as provas.
Neste edificio as salas de aula estavam vazias tendo apenas no seu interior uma cama sem colchao, uma especie de algemas para os tornozelos feitas em aco corrugado para atar os prisioneiros, uma caixa para as fezes, um garrafao para a urina e uma fotografia na parede. Cada fotografia corresponde a uma das ultimas 14 victimas que morreram aqui na prisao antes dos soldados do Khmer Rouge escaparem dois dias antes da invasao da cidade por parte dos vietnamitas. Cada uma das 14 victimas eram soldados do Khmer Rouge que foram assassinados por saberem demasiada informacao sobre o que se passava aqui. Todos foram degulados e/ou estgripados e ainda se podem ver manchas de sangue no tecto das salas bem como restos das pocas de sangue nos mosaicos do chao. Completamente cruel e surrealista... Os corpos destas pessoas foram encontrados passados 2 dias da sua morte em elevado estado de decomposicao por causa do calor. Todos foram enterrados em frente do edificio.
Foto de uma das 14 victimas
No patio da prisao, existe um portico de madeira, onde os prisioneiros eram pendurados pelos pulsos (com os bracos atados atras das costas) ate ficarem inconscientes. A forma de os reanimar era ainda mais cruel. Dentro de uns recipientes ceramicos era misturada agua com fezes e urina, na qual se colocava a cabeca dos prisioneiros ate recuperarem os sentidos.
Bloco C, S-21
Os metodos de tortura eram sadicos e preversos e o objectivo era sempre o mesmo, saber a maior quantidade de informacao possivel e eliminar os prisioneiros. Na maior parte das vezes as pessoas interrogadas nao tinham nada a ver com conspiracao, mas depois de tanto sofrimento diziam qualquer coisa, inclusivamente nomes de amigos e familiares. As formas de tortura eram tantas e tao crueis que nao se podem imaginar numa mente sa.
As mulheres deixavam-lhes crescer as unhas durante 15 dias e depois arrancavam-lhas com ajuda de alicates colocando depois alcool na ferida. Como se isto nao fosse suficiente, despiam-lhes o tronco e cortavam-lhes os mamilos com tesouras. Na maior parte das vezes essas mulheres eram violadas antes de serem torturadas.
Aos homens normalmente cortavam-lhes a garganta com uma folha de palmeira deixando-os sangrar durante cerca de seis horas, tempo que demorava ate que perdessem a consciencia e morressem. Outras vezes esmagavam-lhes os testiculos com alicates ou torturavam-lhes com afogamento simulado. Existem diversas pinturas dos metodos de tortura, levados a cabo pelos pintores que estavam entre os 7 sobreviventes, sendo hoje em dia as ultimas testemunhas das atrocidades e tambem os porta-voz das victimas que morreram aqui.
Alem disso os soldados do Khmer Rouge eram minuciosos como os nazis no registo das suas victimas, tendo tirado fotos aos prisioneiros antes de depois da tortura. Pode-se ver fotos de prisioneiros que froam mutilados cnos olhos com pregos, alguns a quem lhes deitaram acido sulfurico no nariz ate que morressem, outros que morreram de fome e de sede, enfim, toda uma gama do pior que uma mente preversa pode imaginar.
Alem disso os soldados do Khmer Rouge eram minuciosos como os nazis no registo das suas victimas, tendo tirado fotos aos prisioneiros antes de depois da tortura. Pode-se ver fotos de prisioneiros que froam mutilados cnos olhos com pregos, alguns a quem lhes deitaram acido sulfurico no nariz ate que morressem, outros que morreram de fome e de sede, enfim, toda uma gama do pior que uma mente preversa pode imaginar.
Fotos dos prisioneiros depois da tortura. Ao centro no meio victima de tortura por acido sulfurico no nariz...
As salas de aula foram remodeladas como celas individuais de madeira ou de tijolo e tambem como salas de detencao em massa onde os prisioneiros nao podiam falar nem susurrar uns com os outros sob risco de execucao. Nas celas individuais pode-se ver ainda manchas de sangue, resultado de suicidio dos prisioneiros os quais cortaram os pulsos com a colher da sopa... Foi colocada uma vedacao de arame farpado, tapando toda a varanda do edificio para impedir que os prisioneiros se suicidassem, pois eram mais valiosos vivos por causa da informacao que eventualmente tinham em sua posse.
Sai dali competamente agoniado, depois da minha visita a Auschwitz nunca pensei que pudesse assistir de novo a tamanha barbaridade. Como se isto nao bastasse, disse-me a guia que depois de 1979 quando os vietnamitas invadiram o pais e devolveram a "liberdade" ao povo, o Pol Pot fugui para as montanhas, na fronteira com a Tailandia, protegido dia e noite por guerrilhas do regime. Para que nao houvessem represalias, o rei depois de restaurar a monarquia, decidiu dar amnistia a todos os soldados do regime do Khmer Rouge, isto e, decidui perdoar-lhes a todos. Muitos deles vivem hoje em dia no Cambodja como cidadaos livres. Perguntei a guia porque nao havia represalias contra eles, afinal tratam-se de assassinos e muita da populacao viu tais criminosos matar as suas familias. Perguntei-lhe porque ninguem fazia justica social. Ela disse-me que aqui no Cambodja e diferente do que nos paises occidentais, que eu nao poderia nunca compreender como funciona o seu pais nem os seus governantes, mas que a ninguem se lhe ocorre vinganca pois estaria em maus lencois. Nesta altura podia ver lagrimas nos seus olhos. Posso imaginar porque e que o Cambodja e um dos paises mais corruptos do mundo. Quanto ao Pol Pot, esse morreu nas montanhas em 1998 ja com 73 naos. Uns dizem que morreu de velho outros que foi envenenado. Os restantes lideres do regime do Khmer Rouge apenas comecaram a ser julgados por um tribunal especial, constituido para este caso em 2007 e todos foram condenados a prisao perpetua. Note-se que muitos dos lideres do movimento por esta altura ja tinham morrido ou ja passavam dos oitenta anos...
Killing Fields
Antes de visitar os campos visitei o museu e assisti a um outro filme sobre o Khmer Rouge. Os sobreviventes das torturas na prisao S-21 eram levados para um antigo cemiterio chines que foi destruido para que se fizessem valas comuns nas quais eram enterrados os prisioneiros. Ao chegar a este local normalmente punham-lhes uma venda nos olhos e davam-lhes um golpe com um ferro na nuca e depois cortavam-lhes a garganta antes de os atirar para dentro da vala. Muitos deles eram enterrados vivos. Foram encontradas mais de 150 valas comuns, muitas delas com varias tipologias de victimas, deixando no ar algumas perguntas sem resposta. Numa foram encontradas apenas corpos decapitados de varias dezenas de homens e numa outra corpos de mulheres e bebes. As criancas eram levadas ate aqui junto com as suas maes e sob sua observacao eram agarradas pelas pernas e esmagadas pela cabeca contra uma arvore (que ainda hoje sobrevive como testemunha silenciosa de tanta barbaridade).
Havia altifalantes com musica que tocava muito alto, para esconder os gritos das victimas. Nunca ninguem soube da existencia de este campo de exterminio ate que foi descoberto pelos vietnamitas em 1979. No total exumaram mais de 8.000 corpos das valas comuns. O que mais impressiona nisto tudo e o monumento que o governo construiu em homenagem as victimas e onde foram colocados os seus restos mortais. Caminhando pela zona das valas comuns pode-se ver por todo o lado pedacos de ossos e de roupa que a erosao das chuvas vao trazendo a superficie. Ainda estao mais de 80 valas comuns por exumar.
Havia altifalantes com musica que tocava muito alto, para esconder os gritos das victimas. Nunca ninguem soube da existencia de este campo de exterminio ate que foi descoberto pelos vietnamitas em 1979. No total exumaram mais de 8.000 corpos das valas comuns. O que mais impressiona nisto tudo e o monumento que o governo construiu em homenagem as victimas e onde foram colocados os seus restos mortais. Caminhando pela zona das valas comuns pode-se ver por todo o lado pedacos de ossos e de roupa que a erosao das chuvas vao trazendo a superficie. Ainda estao mais de 80 valas comuns por exumar.
Me encantó tu tarde con los monjes! Muy poético.
ResponderExcluirLo otro... bueno... es un poco duro...
Así es el ser humano, cruel y despiadado y a la vez espiritual y generoso... por eso nunca podemos generalizar. Cuántas caras de la moneda que estás experimentando!