15 de jul. de 2011

Resumo da viagem

Duração: 92 dias

Países visitados: Tailândia, Laos, Vietnam, Cambodja, Malásia e India


Links para os posts de este blog:

A mochila

Vistos

Consulta do Viajante

Últimos preparativos e roteiro base

A aventura começa aqui!

Cheguei a Bangkok

Dia 1 a Dia 2 - Bangkok – Tailandia

Dia 3 - Bangkok - Tailandia

Dia 4 - Bangkok / Viagem a Chiang Mai - Tailandia

Dia 5 - Chiang Mai – Tailandia

Dia 6 a Dia 8 - Karen tribe villages – Tailandia

Dia 9 a Dia 12 - Chiang Mai / Chiang Khong – Tailandia

Dia 13 a Dia 14 - Mekong River – Laos

Dia 15 a Dia 16 - Luang Prabang – Laos

Vietnam. Um pouco de historia...

Dia 17 a Dia 18 - Hanoi – Vietnam

Dia 19 a Dia 21 - Halong Bay – Vietnam

Dia 22 a Dia 25 - Saigon e arredores – Vietnam

O lado negro do Cambodja

Dia 26 a Dia 28 - Phnom Phen – Cambodja

Dia 29 a Dia 32 - Siem Riep e templos de Angkor – Cambodja

Dia 33 a Dia 35 - Kuala Lumpur – Malasia

Dia 36 a Dia 41 - Pulau Perhentian Islands – Malasia

Dia 42 a Dia 45 - Pulau Langkawi – Malasia

Dia 46 - Krabi – Tailandia

Dia 47 a Dia 50 - Koh Phi Phi – Tailandia

Dia 51 a Dia 52 - Koh Pha Ngan – Tailandia

Dia 53 a Dia 59 - Koh Tao / Nga Yuan – Tailandia

Dia 60 a Dia 63 - Calcuta – India

Uma viagem de comboio do outro mundo

Dia 64 a Dia 67 - Varanasi – India

Dia 68 a Dia 70 - Khajuraho – India

Dia 71 a Dia 72 - Agra – India

Dia 73 a Dia 85 - Jaipur – India

Dia 86 a Dia 90 - New Delhi – India

Dia 91 a Dia 92 - Bangkok - Tailandia

3 de jul. de 2011

Dia 91 a Dia 92 - Bangkok - Tailandia

THE END OF ONE DREAM AND THE RISE OF ANOTHER

Neste momento estou no aeroporto de Barajas, em Madrid, a espera do aviao da TAP que me levara de volta a Lisboa. A minha viagem terminou onde comecou, na maravilhosa cidade de Bangkok. Foi nesta cidade que pisei pela primeira vez um pais asiatico. No inicio achei que era uma cidade caotica, entropica e instavel, mas agora que descobri Bangkok de tantas e tantas formas, acho que e uma das cidades da minha vida e ganhou todo o meu carinho e admiracao, aqui sinto-me em casa. Os dois ultimos dias que passei na Tailandia foram relaxados e nao fiz nada mais que disfrutar dos ultimos foguetes de esta aventura, observando apenas, a impermanencia de todas estas sensacoes que me invadem neste momento em que vou terminar de viver um sonho antigo.


Esta viagem pelo sudeste asiatico, foi linda, espectacular e indiscritivel, mas foi tambem o culminar de um ano sabatico em que decidi parar para, viajar, observar e reflectir, na procura incansavel de alguma mudanca que eu proprio (e a minha babe) insistimos em criar na nossa vida. Aprendi que nao sou as minhas memorias, mas sim os meus sonhos, que tudo tem de ter o seu equilibrio e que se tem de trabalhar seja qual seja o caminho por onde se enverda, pois uma caminhada de milhares de km's comeca com o primeiro passo. Esta viagem pelo sudeste asiatico foi o resultado de um desejo interior e por isso uma experiencia unica, singular e subjectiva. Viajei sozinho e todos os momentos, coisas boas ou mas, foram culpa minha e de mais ninguem. Mas neste ano sabatico em que visitei 15 paises, uns melhores que outros, reforcei a ideia de que sou um viajante e nao um turista, que gosto de dedicar os meus recursos a conhecer o nosso planeta. Descobri que posso ser mais do que sou neste momento e que tenho tantos potenciais por explorar.


Conheci tanta gente maravilhosa durante esta viagem, alguns de quem poderia ser amigo para o resto da minha vida, outros de quem ja nem me lembro o nome, mas todos maravilhosos, pois tinhamos sempre alguma coisa em comum, nem que seja a paixao por viajar. Muita da gente que conheci (tal como eu) tinha deixado o seu trabalho e aquilo a que se dedicaram nos ultimos anos, e partiram a aventura, na esperanca de voltar melhor do que quando partiram. E como nao voltar melhor do que quando se partiu, viajar e a melhor terapia de todas e viajar sozinho durante um tempo consideravel, o melhor que pode acontecer a alguem na sua vida e deveras recomendavel. Viajando a solo e que uma pessoa realmente descobre aquilo de que e feita em qualquer situacao. Viajando a solo e que se encontram as respostas para as perguntas que mais niguem pode responder. Viajando a solo e que uma pessoa se enfrenta a si mesma, nos seus medos, desejos, caprichos e demonios.


Tudo o que comeca, acaba, e a lei da natureza. O final de um sonho e o inicio de outro, sempre que o sonhador tiver a sabedoria e a sensatez para enfrentar a sua vida, os seus medos e os seus desejos. Hoje termina um sonho, amanha comecara outro. Espero continuar a ter a inspiracao e o privilegio para encontrar a verdade dentro de mim.


Encontra dentro de ti as direccoes por onde desejas seguir, encontra dentro de ti a liberdade para seguir o teu caminho. So assim viveras em paz na tua realidade. Seja qual for o teu destino, vive os teus sonhos, cria as tuas memorias...


"All our dreams can come true - if we have the courage to pursue them"

Walt Disney



Agradeco do fundo do coracao a todos os que me acompanharam nas minhas aventuras, este blog e para voces todos e o tempo que lhe dediquei foi para cada um de voces que o leram e viajaram comigo incansavelmente. Espero que tambem seja util para aqueles que querem viajar por estas bandas e que de alguma forma os inspire, ajude ou apenas informe sobre o potencial de viajar pelo sudeste asiatico e norte da India.


No fim de 92 dias pela asia, chegou o momento de voltar a casa...

2 de jul. de 2011

Dia 86 a Dia 90 - New Delhi - India

Cheguei a New Delhi no comeco da manha e ainda se sentia aquela leve brisa morna que indica que o dia vai ser caloroso. Confesso que nao senti o ar pesado de poluicao que toda a gente me falou que havia em Delhi (se calhar porque ja estou na Asia ha tres meses), mas senti a o ar pesado dos vagabundos e sem abrigo que se arrastavam pelo chao da estacao de comboios, muitos dos quais vivem aqui. A verdade e que a primeira impressao de uma cidade indiana e sempre a pior pois o primeiro contacto que se da, normalmente, faz-se na estacao de comboios ou de autocarro e claro com arrasto de tudo o que vem associado a isso. Mas como tudo na vida, tudo tem o seu lado bonito e o seu lado feio, e isto e a India, e para alem de todas as coisas fabulosas que este pais tem para oferecer, tambem existem as coisas nada fabulosas como a pobreza e miseria de muita gente. Os preambulos desta minha viagem pela India, escolheram New Delhi como a ultima cidade a explorar neste pais incrivel, para me ensinarem que aqui na India existem apenas duas condicoes sociais, dois contrastes, a cara e a coroa da moeda, resumidos a duas origens, nao importa a casta , sexo ou profissao: "The Darkness" e "The Light".

New Delhi e uma cidade gigante com cerca de 12,5 milhoes de habitantes (2 milhoes mais de habitantes do que em todo o territorio portugues) sendo a segunda cidade mais povoada da India (a primeira e Mumbai com 13,5 milhoes de habitantes). Esta cidade nem sempre foi a capital do pais. Antigamente durante a era colonial britania a capital estava em Calcuta, mas devido a divisoes politicas no seio da cidade o governo britanico decidiu mudar a capital para New Delhi. Em 1947 quando a India se declarou independente da Inglaterra, New Delhi foi entao nomeada a capital do novo pais e e assim desde entao.

Como qualquer cidade grande e necessario algum tempo para visitar esta gigante metropole. Viajar devagar na India permite disfrutar um pouco da calma, tranquilidade e delicias da India que so se encontram nos momentos de lazer fora das agitadas ruas e vielas, como restaurantes, cafes, locais de Chai, jardins, museus, etc, e ao fim de um mes na India e mesmo o que estou a precisar. Cinco dias em New Delhi vao repor a energia (ou nao :D) que preciso para voltar a Bangkok e dai regressar a casa.

Paharganj
Como em outras cidades da Asia, e necessario reservar alguns momentos para deambular pelas ruas sem procurar nada em concreto, apenas apreciar a vida, os cheiros, os sabores e os sons da India. Como ainda nao tinha comprado nada para levar de volta a casa durante toda a viagem, aproveitei as minhas deambulacoes com rumo incerto para encher a mochila de iguarias indianas.

Mercado local no bairro de Paharganj

O bairro de Paharganj (que by the way, e a zona de backpackers aqui de New Delhi e tambem a zona onde me instalei no exotico hotel Anup) e uma das zonas comerciais com mais vida que se podem encontrar aqui em New Delhi. Desde lojas feitas a medida do turista, a mercados locais e lojas de pequenos comerciantes, pode-se encontrar de tudo: especiarias, chas, incensos, ceramicas, roupas, artesanato, etc.

Crianca indiana nos bracos da mae

So o facto de caminhar e observar ja e suficiente para distrair qualquer pessoa, mas aqueles que gostam de largar a pasta, entao encontraram aqui um paraiso. Neste bairro foi onde instalei a minha base, e esta claro passei muito tempo por aqui pois era neste sitio que comecava e terminava os dias. Entre as minhas rondas de exploracao, bem ao estilo capitao do mato (urbano), descobri magnificos sitios onde se comia um thali sublime, disfrutava sempre do meu lassi diario e de uns Chais aqui e ali.

Vendedor de samusas

A melhor parte do dia era sem duvida o magnifico sumo natural de manga que tomava 3 vezes por dia, que um senhor muito simpatico me servia no seu estanco apenas por 5 rupies (menos de 0,10 eur).

O vendedor de sumo de manga

Connaught Place
Esta praca e uma das atraccoes principais de New Delhi. Se fosse Lisboa, eu diria que estava na Rua Augusta. A praca esta dividida em sectores e compoe o principal centro comercial e financeiro da cidade. Pela sua forma peculiar e pelas maginicas arcadas de marmore branco e uma area tranquila para se passar uma tarde a passear e ver lojas, gente e tranquilidade fora da confusao da cidade velha, se bem que aqui ja estamos a falar de cadeias internacionais como a Reebok, Bata, Benetton, etc.

Galerias de Connaught Place

Mesmo no encalce da Connaught Place esta o Palika Bazaar, um mercado subterraneo que mais parece uma estacao de metro circular. Aqui volta-se de novo a India mais caotica e a sua confusao. Estive ali dentro pouco mais de uma hora e sai completamente stressado e irritado pois e impossivel caminhar sem se ser abordado constantemente por todos os vendedores com o "Hallo, sir!", "Where you from sir?", "May I help you sir?", "What you looking for sir?". Esta bem que a parte do sir e um bocado lambe botas, mas e divertido, aqui um extrangeiro sente-se importante, por mais miseravel que seja no seu pais de origem. Mas estes gajos dao cabo da paciencia de qualquer pessoa e eu nao fui excepcao. O que irrita e que nao faz parte do seu comportamento normal como no Vietnam ou na Tailandia, em que abordam toda a gente da mesma forma, sejam extrangeiros ou nao. Os indianos, sao outra estirpe de asiaticos. Um extrangeiro/turista/viajante e um saco de rupies com pernas e todos os pretextos sao validos para fazer saltar o dinheiro ca para fora. Tive abordagens completamente surreais, desde gajos a quererem-me limpar as orelhas dizendo que eram magnificos no seu trabalho e comprovando o facto com papeis escritos por turistas a corroborar, ate engraxadores a dizer que me limpavam os chinelos. As vezes vou andando pelas ruas e vem alguem ter comigo, dizendo que e estudante e quer praticar o ingles. Passado menos de um minuto ja te esta a tentar vender alguma coisa. Enfim de tudo o que vi na cultura da India o que menos gostei foi esta parte de engano permanente, com simulacoes de simpatia e hospitalidade.

Palika Bazaar

Depois de sair completamente esgotado do Palika Bazaar, decidi ir descansar as pernas e tomar alguma coisa por ali. Caminhei para sul da praca e deparei-me com o Tibetan Bazaar. Este mercado e um pouco mais achinesado e podem-se encontrar coisas mais orientais segundo o conceito de orientais que tenho. Toda a zona esta repleta de lojas com coisas bem exoticas para decorar a casa, e apesar de ja estar cheio de sacos nas maos, queria sempre comprar tudo o que via. Ainda pensei em enviar coisas para casa. Aqui na India os correios tem um servico que se chama S.A.L. e que apenas por 27 eur. pode-se enciar 10kg de mercadoria para a europa demorando apenas 15 dias. Rejeitei de seguida tal pensamento consumista, afinal eu sou um pe de chinelo e levo o que puder na minha mochila, como sempre fiz, a moda antiga... No total em New Delhi aumentei a minha carga em 9 kg, o que significa que tenho que deixar muita carga pelo caminho.

Macaco nas imediacoes do Tibetan Bazaar

New Delhi
Ufffffaaaaa! So de me lembrar de este dia ja me doem as pernas, ha muito tempo que nao caminhava tanto, debaixo de tanto calor. Olhando o mapa enquanto tomava o pequeno almoco vi que as distancias eram bem grandes e que apenas de metro nao me safava. O metro e bem moderno e muito barato para o servico que oferecem. Antes de se entrar na estacao tem que se passar um controle de seguranca com detector de metais e raios X para a bagagem. Em cada comboio do metro ha um vagao reservado especialmente para mulheres, uma gota de sensatez, num oceano machista. A primeira vez que andei de metro nao sabia que era assim e entrei exactamente neste vagao. Esta claro que todas as senhoras me olharam com cara de "Mas o que e que tu estas a fazer aqui o meu?" e o seguranca muito subtilmente me aponto o sinal "Only Women"...

Vagao destinado as mulheres no metro de New Delhi

Contrariando qualquer sinal de homossexualidade, uma coisa bem estranha e engracada na cultura indiana e que os homens gostam de andar pela rua de maos dadas. Aprendi que em muitos sitios da Asia, especialmente na India, andar de maos dadas com um amigo na rua e o melhor sinal de demosntracao de amizade hetero que se pode ter com um amigo. O que e um facto e que vi dezenas de homens de maos dadas pelas ruas, mas nenhum casal (de homem e mulher) actuando da mesma forma, pois a demosntracao de carinho entre homem e mulher em publico, e uma coisa obscena. Como diria o Obelix se estivesse aqui "Estao loucos estes... indianos..."

Dois homens de maos dadas nas ruas de New Delhi

Apenas sai na estacao de JLN Stadium vi que estava na zona in da cidade, estadio de futebol, resort de golf, universidades e condimonios fechados, se me pusessem aqui por magia sem ter visto outras partes da cidade diria que neste pais a gente vive muito bem. Comecei a andar pela avenida principal em direccao a Humayun's Tomb mas a meio caminho tive que apanhar um autocarro que passava naquela direccao pois com o calor que fazia ia chegar ali completamente desidratado. Mesmo assim caminhei durante cerca de meia hora e nem a metade do caminho estava.

Encantador de serpentes na entrada de Humayun's tomb

A Humayun's Tomb e uma historia que nao e a do Taj Mahal, mas poderia ser, pois os edificios sao muito parecidos e o conteudo e o mesmo. Este monumento foi construido como sepultura do imperador Mughal Humayun sob ordens da sua esposa Hamida Banu Begum depois do homem morrer. Quem ve o edificio facilmente encontra muitas semelhancas com o Taj mahal e esta claro porque tambem foi declarado patrimonio da humanidade pela UNESCO.

Humayun's Tomb. Nao e o Taj Mahal, mas podia ser...

Foi construido com marmore vermelha e marmore branca dando-lhe um toque sui geniris que pessoalmente na minha opiniao nao fica (muito) detras do Taj Mahal. A historia e parecida mas nao e tao tragica. No final metade da familia do imperador foi enterrada aqui, assim como a esposa Hamida que mandou contruir o templo e ate o barbeiro preferido do monarca.

Humayun's Tomb

Tive de apanhar um autocarro para o meu proximo destino se nao queria derreter a sola dos chinelos no alcatrao incandescente das ruas sem sombra, que calor fazia ali, por deus. Foi interessante pois apanhei o autocarro sem saber para onde se dirigia e andei as voltas pela cidade ate que passei numa rua relativamente perto do sitio que queria visitar de seguida.
Ainda tive de caminhar meia hora para chegar ao Mohandas Ghandi Smriti, o sitio onde o Ghandi viveu os ultimos 144 dias da sua vida e onde foi assasinado. A historia da India nao seria a mesma sem este visionario e toda a gente lhe tem muito carinho por aqui. Tal como no Vietnam o uncle Ho tem a sua cara impressa em todas as notas de dong, aqui na india quem teve tal privilegio foi o sr Mohandas Ghandi. Neste espaco esta a casa onde o Ghandi viveu os seus ultimos dias e dela fizeram um museu completamente dedicado a sua historia e causa, onde se podem ver os seus aposentos e alguns dos seus objectos pessoais.

Mohandas Ghandi

Este homem foi assasinado por um extremista hindu com 4 tiros de revolver no peito, quando se dirigia para as suas rezas diarias num pequeno templo no jardim que alberga esta casa. Como homenagem, marcaram no chao umas pegadas de cimento simulando os seus ultimos passos antes de morrer e no local da sua morte ergueram uma pequena coluna a qual chamaram "a coluna do martir".

A coluna do martir, o local onde o Ghandi foi assassinado e umas pegadas de cimento simulando os seus ultimos passos em vida

Old Delhi
O distrito de Old Delhi e um bairro bem patusco e acho que as melhores fotos que tirei em New Delhi consegui-as aqui. A arteria principal do bairro e a rua Chandi Chowk e a partir dai e dar asas a imaginacao, sem esquecer passar pelos 3 "musts" desta zona, o Red Fort, o Spice Market e a Jama Masjid, a maior e mais antiga mesquita de toda a India.

Ruas de Chandi Chowk

Caminhei, caminhei, caminhei e simplesmente adorei, foi um dia muito inspirador e tudo o que vi deixou-me cheio daquele sentimento que so quem viaja e descobre uma cidade e uma cultura novinhas em folha pode receber.

Deambulando pelas ruas e vielas de Old Delhi

O unico incidente que tive foi na entrada da mesquita Jama Masjid, quando me queriam cobrar 200 rupies para poder entrar com a maquina fotografica. Eu como sabia que as mesquitas eram gratis, pois para alem de vir na Lonely Planet, ja tinha visitado outras mesquitas na Turquia, recusei, apesar de dizer que nao queria tirar fotografias. Mas estes gajos aqui na india sao bem ciganos e um pouco, desculpem-me a expressao, cabroes, e nem um espaco religioso escapa. Disseram-me "Ah, volta amanha sem a maquina fotografica, deixa-a no hotel e ja pode entrar, senao tens de pagar 200 rupies", isto nas minhas barbas a entrarem indianos com brutas canon's e sem pagar, pois esta claro que esta regra (como em todos os monumentos de interesse turistico na India) e so para extrangeiros. Tudo bem. Dei a volta e como a mesquita tem 3 portas tentei a minha sorte na segunda entrada, mas desta vez, com a maquina fotografica metida nas cuecas. Revistaram-me mas como nao encontraram nada tudo bem nao tinha que pagar, mas disseram-me que nao podia entrar de calcoes e que o pano para por a cintura custava 2 dolars porque era para mim. Onde e que ja se viu uma mesquita a cobrar aos visitantes para tapar as pernas? Tudo bem mais uma vez. Entrei visitei e ainda levei uma lavagem cerebral de um estudante que me comecou a falar do corao e do maravilhoso que era o islamismo, e bla bla bla, que acabei por levar uma seca de meia hora. Sai pela terceira porta, aquela que ainda nao tinha ido, e com muitas fotos na maquina fotografica, larguei o pano ali mesmo na entrada, quando o guarda estava distraido e fui a minha vida...

A fabulosa mesquita de Jama Masjid

Aproveitei a minha passagem por Delhi vaziar a mochila de coisas que ja nao preciso e dar aqueles que nada tem e que mais necessitam. Ja tinha planificado isto desde o inicio da viagem, por isso trouxe apenas roupa velha que ja nao uso muito, para poder deixar aqui na India antes de me ir embora e levar na mochila coisas que nao encontro na Europa. A minha questao sempre foi "A quem dar o que e que tipo de coisas?". Muita da gente que e realmente pobre nem sequer fala ingles e dar-lhe por exemplo medicamentos e a mesma coisa que deitar fora.
Certa tarde tomando um Lassi junto a Main Bazaar street no bairo de Paharganj veio um senhor falar comigo. Estava vestido com um estilo modestamente intelectual, mas inspirava um ar senaato e as suas palavras foram as de alguem instruido. Este senhor era um professor proveniente do Butao e estava aqui na India para ensinar ingles, ja que no seu pais o governo tinha-o reformado e nao o deixava trabalhar mais por aquelas bandas. Decidiu vir para a India pois ainda tinha que ajudar a sua familia economicamente e contou-me a sua historia. Filho de um professor de meditacao, este homem, budista devoto, voltou-me a maravilhar com todas as coisas maravilhosas que vejo naqueles que praticam meditacao, nao pelos seus beneficios, mas pela calma e estilo de vida que inspiram. Apesar de gente humilde, senti-me pequeno ao pe deste homem. Enquanto tomavamos um Chai num cafe ali perto, viajei nas suas palavras ate a sua aldeia nas montanhas do Butao, senti o cheiro e os sabores da sua cultura, senti a calma da natureza e conheci a sua familia. Explicou-me que tinha de voltar a casa pois aqui em Delhi nao estava a conseguir dinheiro suficiente que desse para poupar e enviar para casa e para conseguir poupar tinha que passar mal muitas vezes, comendo a comida mais barata que encontrava e bebendo agua da torneira. Disse-me que desde Delhi ate casa a viagem demora cerca de 3 dias. Decidi dar-lhe os meus remedios e utensilios de sobrevivencia para que tenha uma viagem mais confortavel, mas tambem porque sendo uma pessoa instruida, de certeza que lhes vai dar o melhor uso, seja para ele ou para outras pessoas que conheca que necessitem. Alem disso e budista, e eu nao podia dar outra coisa a um budista, que nao medicamentos.
No dia seguinte voltei a encontrar-me com ele no mesmo sitio e expliquei-lhe a posologia dos antibioticos, analgesicos, comprimidos purificadores de agua, etc. Dei-lhe tambem "mosquito coils", repelente de insectos, talheres de campismo, protector solar e outras coisas que ja nao me faziam falta.
Tinha tambem roupa, um cobertor e um lencol, bem como shampos, sabao e detergente de lavar roupa para dar, mas decidi guardar estes elementos para os pobres desgracados da rua, que andam sempre todos rasgados e dormem nas estacoes de comboios. Assim que sai do hotel com um saco decidi oferecer o saco a primeira pessoa que me viesse pedir dinheiro ou a primeira pessoa que eu visse que realmente necessite. Ironia do destino, caminhei mais de uma hora com o saco da roupa e ninguem me abordou (ao contrario dos outros dias que passei na India) nem vi nenhum pe descalco. Acho que por causa da chuva. Como as moncoes estao a chegar as vezes a chuva e bem forte, e foi o que aconteceu esta manha. Finalmente deparei-me com um homem a dormir numa escada e dei-lhe a manta e o lencol e deixei as T-Shirts e os calcoes pendurados debaixo de uma arvore onde claramente dormia mais gente.

"Son of the darkness" nas ruas de Old Delhi

Descobri que em Delhi ha mais de 100.000 criancas abandonadas que nao tem casa nem familia, pois muitas delas fogem pelos problemas de carencia que tem na sua casa e outras simplesmente se perdem das suas familias nas multidoes durante viagens e nao sabem voltar a casa pois simplesmente nao sabem onde vivem, nao sabem os nomes das suas familias e muitas delas nem sequer tem nome. Certa tarde parei num "chiringuito" numa rua mulsumana, mesmo ao lado da mesquita e decidi comer umas samusas e um pao com batata, panado num molho amarelo e depois frito (que nao sei o nome) mas e muito agradavel. Comprei alguma destas coisas e sentei-me numa escadaria a comer. Apenas tinha trincado a primeira samusa, vieram logo algumas criancas a pedir-me comida. Esta claro que nao pude fazer outra coisa que nao dar-lhes o que tinha e fui comprar mais. Como aqui crianca puxa crianca, assim que estava a comprar mais comida, senti um puxao na T-shirt e vi que duas meninas me pediam comida. Comprei-lhes o que elas queriam. Sentei-me outra vez na escada e mais uma vez tive de dar o que estava a comer. E revoltande viver estas situacoes e e tambem muito triste, por isso decidi ir-me embora dali e afinal quem ficou cheio de fome fui eu, mas nao aguentaria dizer que nao a esta gente pequenina. De toda a gente pobre que vejo nas ruas, as criancas sao as que mais me impressionam. Isto e o que os indianos denominam "The Darkness".


O outro lado da sociedade indiana, vive tao bem ou melhor do que as pessoas nos paises ocidentais, estes sao os que se chamam "The Light". No dia em que visitei a Connaught Place, decidi ir almocar ao McDonalds. "Mas entao este gajo vem a India e vai comer ao McDonalds?". E verdade, tambem concordo com voces, e um bocado ridiculo e ate fora do meu caracter de "penny pincher", mas desde que me falaram que aqui os hamburgers nao sao de vaca nem de porco, queria ver com os meus proprios olhos (e papilas gustativas) como e um McDonalds sem carne nos hamburgers. Em vez de Big Mac tem McVeggie, um hamburger de vegetais tipo pure panado e frito com sabor a especiarias. O resto e a mesma trampa de sempre, as batatas e a coca-cola sabem igualmente ao mesmo em todo o mundo. Em Barcelona, se vem um vagabundo pedir-te esmola, de seguida vai gastar o dinheiro no McDonalds pois e o mais barato que encontra. Mas aqui na India e diferente. O McDonalds e "family restaurant" preferido dos snobs. Primeiro nao vi em nenhum sitio casa de banho mais limpa do que no McDonals (nem mesmo no hotel), com um empregado de escolta que limpa a casa de banho constantemente, sempre que alguem a usa, e senta-se numa cadeira a porta de entrada dos W.C.. Segundo, seguranca selectivo a porta, aqui so entras no McDonalds se estiveres minimamente apresentavel, se es um vagabundo da Darkness e melhor ir comer um Dal fry no estanco da esquina. Terceiro com o que gastas num menu normal aqui (140 Rupies - 2,20 eur) podes alimentar-te durante 2 dias comendo na rua (6 refeicoes - pequeno almoco, almoco e jantar).
Os indianos ricos, tem a mania que ser ocidental e ser cool, vestem-se e comportam-se como tal, seja de calcoes ou de mini-saia, e com penteados super fashion victim. Nada de sairee nem tradicoes retrogadas (a nao ser os casamentos arranjados). Contaram-me uma historia de gente supostamente avancada para a sociedade. Como se sabe os casamentos na India sao arranjados pelas familias e normalmente os noivos so se veem no dia da cerimonia. Certa familia snob, que estando triste com a infelicidade que tal situacao tras aos seus filhos decidiu abrir uma porta a tradicao. A sua filha tinha direito de escolher o seu marido, mas os namorados escolhia-os a familia. Se ela nao gostasse do namorado, podia acabar com ele e a familia arranjava-lhe outro. Isto sim que e progresso...

Estava ja no aeroporto para apanhar o voo de volta a Bangkok e constatei o que ja tinha lido no livro "The white tiger". Os ricos nao gostam de falar indiano, por isso falam entre eles em ingles. A minha frente no controle de passaportes estava uma familia com duas criancas pequenas. As instruccoes que os progenitores davam aos filhos eram sempre em ingles e quando uma das criancas respondia em hindu era repreendida com um "Please answer your father in english, Salem, ok?". Eu acho o sotaque bem original e as mulheres indianas a falar ingles tem uma forma de dizer as palavras bem sexy.
Os bairros dos ricos, sao condominios fechados com seguranca e arame farpado, oasis no meio do deserto, que poderia ser qualquer sitio de gente rica em paises pobres. Esta e a "Light".

Next move to Bangkok, para terminar a viagem em beleza, exactamente onde comecei...

26 de jun. de 2011

Dia 73 a Dia 85 - Jaipur - India

Dhamma Thali, Vipassana Metitacion Center

"Mastery of speech is good, mastery of physical actions is good, but one who masters the mind is a real warrior."

Ate entrar num Ashram e ter o meu primeiro contacto com a meditacao e que percebi que o conceito abstracto que eu tinha incutido a priori, estava completamente desviado da realidade. Aprendi que, basicamente na sua mais profunda essencia, a pratica de meditacao nao e mais do que exercicio mental para fortalecer e manter a saude da mente, tal e qual, por analogia se pratica exercicio fisico para fortalecer e manter a saude do corpo.
Existem varias tecnicas de meditacao no mundo e como tal existem varios objectivos de meditacao e consequentemente varios resultados. Tudo esta interligado, mas todas estas variaveis sao algo muito mais profundo do que encontrar boas sensacoes, sentir um fluxo de prazer pelo corpo e relaxar.
Inscrevi-me num curso de meditacao de 10 dias, na cidade de Jaipur, em www.dhamma.org, o qual descobri atraves de uma amiga do Cazaquistao que fiz ao longo da minha viagem.

Jaipur
Tinham-me falado que esta instituicao realiza cursos de meditacao completamente gratis, onde oferecem a comida, instalacoes e conhecimento, para ensinar a tecnica de Vipassana tal e como foi descrita e legada ao mundo por Budha, no seu estado mais puro de integridade, e vive apenas de doacoes pecuniarias de antigos alunos. A tecnica de Vipassana e a mais antiga da India (e tambem uma das mais antigas tecnicas de meditacao do mundo) e quase que foi perdida ao longo dos 25 seculos depois da morte de Budha, tendo sobrevivido de boca em boca por uma pequena elite de meditadores puristas que continuaram a formar os seus alunos. Na realidade a tecnica nunca correu o risco de morrer no esquecimento das mentes desatentas, mas ao longo dos anos, a sua essencia foi sendo alterada e misturada com outras tecnicas e portanto quase que se perderam vestigios da sua originalidade.
O que aprendi no curso nao posso descrever tao facilmente aqui (porque tambem ha uma parte bem chata de canticos e licoes budistas dos quais nao sou nem quero ser o mensageiro) mas vou deixar uma ideia bem clara e o mais sincero desejo de toda a gente que tenha o espirito e a vontade de descobrir um pouco mais sobre o invulgar que e a mente humana e o quanto pode melhorar a sua qualidade de vida com a pratica de meditacao, que realize um curso de Vipassana. Esta gente e muito boa onda, muito honesta e nao tentam fazer lavagem cerebral, apenas querem que o mundo seja um lugar melhor e nao pedem nada em troca, apenas trabalho das pessoas que juntao o curso e todo o seu empenho.

O curso de 10 dias de Vipassana nao e um ritual baseado numa fe cega, nao e divertimento intelectual nem filosofico, nao sao umas ferias gratis num Ashram nem um escape aos problemas da vida quotidiana. O que as pessoas que juntem este curso podem esperar e a aprendizagem de uma tecnica que ajudara a erradicar sofrimento e a forma de enfrentar a vida e os seus problemas, uma forma de purificar a mente e ver as coisas muito mais claras no dia-a-dia e portanto ser uma pessoa muito mais tranquila e harmoniosa em todos os aspectos relacionados com a percepcao da realidade. Resumindo e uma forma de disciplinar e purificar a mente de vicios antigos nos mais profundos complexos que estao enraizados. Parece um pouco cor de rosa, mas nao e. De facto e um processo bem duro e dificil.

Antes de comecar o curso temos de ler um papel que nos explica as regras do centro, onde nao poderemos matar nenhuma forma de vida, nem roubar, nem falar com ninguem, (i.e. tem que se manter "noble silence" um conceito de silencio de fala e da mente que ajuda na concentracao) nem ler, nem escrever, nem comunicar de forma nenhuma, etc... Explicam-nos tambem os horarios e fazem-nos assinar um papel em como nos comprometemos a permanecer dentro do centro durante esses 10 dias com a perfeita consciencia que temos que respeitar todas as regras impostas. O curso sera bem duro a nivel fisico poir estarei 17 horas acordado das quais 10 horas passarei a meditar.

4:00 am
Morning wake-up bell
4:30-6:30 am
Meditate in the hall or in your room
6:30-8:00 am
Breakfast break
8:00-9:00 am
Group meditation in the hall
9:00-11:00 am
Meditate in the hall or in your room according to the teacher's instructions
11:00-12:00 noon
Lunch break
12noon-1:00 pm
Rest and interviews with the teacher
1:00-2:30 pm
Meditate in the hall or in your room
2:30-3:30 pm
Group meditation in the hall
3:30-5:00 pm
Meditate in the hall or in your own room according to the teacher's instructions
5:00-6:00 pm
Tea break
6:00-7:00 pm
Group meditation in the hall
7:00-8:15 pm
Teacher's Discourse in the hall
8:15-9:00 pm
Group meditation in the hall
9:00-9:30 pm
Question time in the hall
9:30 pm
Retire to your own room--Lights out

A duracao de 10 dias e essencial pois a meditacao Vipassana é ensinada passo a passo, sendo todos os dias acrescentado um novo passo, até ao final do curso. Quem nao aguentar os 10 dias nao compreendera todos os passos e entao tudo sera em vao. Além disso, ao meditar intensivamente, um aluno de um curso inicia um processo que só é completo no final do curso.

O espaco onde se realiza o curso esta a cerca de 15 km da cidade de Jaipur e chama-se Dhamma Thali . No centro de um bosque do Rajaquistao so se pode esperar imensa natureza. Todos os dias vibrei com a quantidade de vida selvagem que havia por ali, desde macacos, esquilos, pavoes, monitor lizards, gueko lizard, escorpioes e uma especie de cavalo/bovino com cornos que ainda nao percebi que animal era, mesmo depois de pesquisar no google. No primeiro dia acordei com um escorpiao a caminhar na minha cama. Como fiz um voto de nao matar durante 10 dias, tive de livrar-me do bicho como pude, neste caso varrendo-o com uma vassoura. Outro dia encontrei outro escorpiao na casa de banho e uma aranha bem ao estilo tarantula dos quais me livrei varrendo-os para dentro de um balde e atirando-os para a rua. Acho que foi a parte mais stressante do curso pois as instalacoes eram bem modestas e qualquer bicharoco entrava para dentro do quarto. Despois destas peripecias, todos os dias varria o quarto com uma lanterna em todos os cantos para nao ter mais surpresas.

Dhamma Pagoda em Dhamma Thali Vipassana Meditacion Center em Jaipur

Eu confesso que perdi a nocao dos dias e da passagem do tempo. Entrei muito motivado e tentei dar o meu melhor em tudo o que me ensinaram. Apesar da tecnica de meditacao ensinada ser a Vipassana, na realidade durante o curso sao ensinadas 3 tecnicas de meditacao: Anapana, Vipassana e Metta.

Nos primeiros 4 dias ensinam a tecnica de Anapana. Esta tecnica e uma ferramente indispensavel para comecar a fazer Vipassana. O objectivo desta tecncia e desenvolver a concentracao atraves da respiracao e afinar de tal forma a sensibilidade da mente como eu nunca pensei que fosse possivel. Descobri que tenho uma mente selvagem e por isso sofri bastante irritacao ao tentar concentrar-me, pois na minha cabeca nao parava um chorro de pensamentos. Durante estes primeiros 4 dias o dia 2 foi o pior de todos. As vezes lembrava-me do Homer Simpson quando fala para dentro. Assim estava eu a falar com a minha mente "Cerebro estupido, porque e que nao te calas? Porque e que nao paras de tocar essa musica irritante?... Chhiiuuuu, parraaaaaa...". No final descobri que com toda a gente passou o mesmo e que apenas com presistencia e calma e que se consegue controlar. os pensamentos. O pior de tudo foi estar sentado com as pernas cruzadas durante 10 horas diarias. As dores nas costas e nas pernas sao terriveis, mas tambem isto faz parte da licao. Outro aspecto interessante e que se tem de estar com os olhos fechados e em completo silencio dentro do Dhamma Hall (o local onde se faz a meditacao). Este processo tambem exige muita calma pois intensifica todas as variaveis de paciencia que se requerem, nomeadamente porque toda a gente abre os olhos de vez em quando e olha para o lado e ve o vizinho em perfeita posicao de Budha e pensa"Fogo, sera so a mim que me doem as pernas? Como consegue este gajo estar tanto tempo sem se mexer?". Mais tarde descobri que toda a gente pensa o mesmo de toda a gente. Com o passar dos dias as dores vao sendo menores e no fim ja consegui estar sentado na mesma posicao sem me mexer e sem que as dores me incomodem.

Dhamma Hall num centro de meditacao Vipassana

Nos ultimos 6 dias e entao que comeca realmente o curso de Vipassana. Esta tecnica usa as habilidades desenvolvidas com a Anapana. Uma vez que a mente esta completamente concentrada entao pode-se comecar a treinar Vipassana.

Esta tecnica consiste num "scanning" desde o topo da cabeca ate os pes em uma ordem especifica observando as sensacoes em cada e toda parte do corpo. Somos ensinados a observar as sensacoes tal e como elas sao, nao importando se sao agradaveis ou desagradaveis. A mente deve permanecer equanime, i.e deve haver total falta de desejo ou aversao a qualquer sensacao particular. Tal como acontece com a tecnica de Anapana, existem varias etapas. Inicialmente a accao de precorrer todo o corpo e um processo lento e as sensacoes sao mais brutas (isto é, grandes áreas de dor ou aperto no peito, falta de sensibilidade, etc.) Com o progresso, as sensacoes tornam-se mais e mais sutis (uma sensacao de partículas a vibrar) e da velocidade de "scanning" aumenta consideravelmente. Em seguida (se se chegar à fase em que toda a superfície do corpo está coberta de sensacoes subtis - eu ainda nao cheguei mas espero ter a forca de vontade para continuar a praticar e ver se chego), comeca-se a analise de sensasoes dentro do corpo. Eventualmente, com muita pratica e disciplina chega-se a um estado em que todas as sensasoes sao subtis em todo o corpo, tanto no interior e na superficie do corpo, entao e alcancado o estado de bhanga ou dissolucao (ou seja, uma dissolucao do corpo em todas particulas homogneamente). Neste estado, a mente e capaz de transgredir a ilusao de realidade aparente em que o corpo parece solido e imutavel e atinge-se a uniao do corpo e da mente. O objectivo de todo este processo e um pouco complicado de entender, e em todo o momento tem que se estar atento e imparcial, pois segundo a teoria desta tecnica, toda a percepcao do mundo esta na forma como sentimos aversao ou desejo por alguma sensacao, no mais profundo do nosso consciente. Nao sei se entendem, mas e dificil pois como disse tudo se passa a nivel do inconsciente e por mais conscientes que estejamos a ler este texto, muitos dos defeitos de fabrico da nossa mente, dos seus vicios, estao presos no inconsciente e sao ja parte de nos. Todo este processo permite disciplinar a mente a nivel do incosnciente e comecar a ver as coisas como elas sao e nao como a nossa mente as percebe.

No ultimo dia e ensianda a tecnica de Metta. Segundo o professor Goenka (um dos lideres espirituais da India, e o mais conceituado professor de Vipassana do mundo) praticar Vipassana e como fazer uma operacao cirugica a mente. A tecncia de Metta e usada para fechar a ferida e colocar um penso. Consiste em gerar sentimentos de bondade e carinho por todos os seres vivos. Eu nao consegui entender bem esta tecnica, pois e a nivel de pensamentos e nao atraves de um procedimento especifico.

No ultimo dia acaba o "noble silence" e toda a gente pode falar com toda a gente, excepto homens com mulheres, pois a separacao de sexos mantem-se ate ao final do curso. Descobri muitos engenheiros a fazer o curso comigo. Acho que isto da meditacao faz falta a engenharia.

Adorei esta experiencia e abri a mente para outra realidade, a realidade do seu inconsciente e do vasto caminho que ha entre o que se sente e o que se pensa que se sente. E definitivamente algo a explorar e quem tiver hipotese de fazer este curso deve realmente aproveitar a oportunidade.

Jaipur
O dia antes de comecao o curso e o dia depois, passei-os nas ruas de Jaipur. Esta cidade e muito bonita e a mais limpa que encontrei ate agora na India. Chamam-lhe a Toulouse da Asia, pois tambem e uma cidade cor de rosa. No seculo XIX quando o principe de Gales visitou a cidade o emperador, mandou pintar toda a cidade de rosa como sinal de boas vindas ao principe. Desde entao ficou a sua imagem de marca.
Jaipur "The pink city"

A atraccao principal da cidade esta dentro das mulharas no centro historico. Este sitio esta cheio de bazaars e ruas de comercio. Aqui pode-se encontrar de tudo e uma pessoa perde-se no meio de tanta vida, cores, cheiros e barulhos. E sem duvida um must para quem visita a India e completamente imperdoavel para quem a perde.
Ruas de Jaipur
Deambular por Jaipur e o melhor que um viajante e/ou turista pode fazer na India e uma das melhores experiencias de exotismo para quem gosta de ver a vida a ser vivida...
Gate de entrada na cidade velha

14 de jun. de 2011

Dia 71 a Dia 72 - Agra - India

Tive de passar 12 horas enfiado num autocarro e uma das piores viagens da minha vida para chegar a Agra, mas valeu a pena, esta cidade e daquelas a que nao se pode escapar quando se visita a India, pois e aqui que se pode apreciar, observar, sonhar e delirar com o edificio mais bonito do mundo. Ladies and gents, please welcome, indeed, The Taj Mahal.

Taj Mahal

Nao e por acaso que esta obra de arte a arquitectura e ao amor, ganhou o privilegio de estar entre os sete vencedores das sete novas maravilhas do mundo, pois todo o seu significado e a forma como expressa tao bem o que quer dizer, deixa qualquer um boquiaberto quando esta diante de tal maralhiva. Levantei-me as 5h30 para ver o nascer do sol sobre o Taj Mahal, e valeu bem a pena.

Taj Mahal. Uma lagrima que escorre pela face da eternidade.

A historia do Taj Mahal remonta ao seculo XVII. Conta a historia que Aryumand Banu Began , a mulher do imperador Shah Jahan, a quem este chamava de Mumtaz Mahal (a joia do palacio), faleceu dando a luz o decimo quarto filho do casal. O emperador ficou de rastos com a tragedia e dizem que apenas numa noite os seus cabelos ficaram completamente brancos por causa da dor e tristeza e ordenou a construcao do mais belo edificio jmais visto pelo mundo, sobre o tumulo da sua amada.

Shah Jahan e Mumtaz Mahal

Apesar da construcao ter comecado no mesmo ano em que Mumtaz Mahal morreu, o edificio demorou 8 anos a ser contruido e foram usados cerca de 20 mil trabalhadores para terminar o trabalho e varios artesaos foram trazidos desde a europa para trabalhar a marmore branca com que esta construido o Taj Mahal. Toda a marmore foi trazida do Rajakstan, uma provicincia a oeste da India.

Outro ponto de vista

Pouco tempo depois de finalizada a construcao do Taj Mahal, o emperador (sabe-se la porque) foi retirado do trono pelo seu filho Aurangazeb e preso no forte de Agra, que fica apenas a 2km do Taj Mahal. Durante os proximos e ultimos 8 anos da sua vida, o (ex)emperador Shah Jahan apenas podia contemplar a sua obra de arte desde a janela da torre onde estava preso, tendo sido sepultado ao lado da sua amada, sendo a sua sepultura o unico elemento assimetrico dentro de todo o Taj Mahal.
O amor do emperador pela sua esposa era tao grande que quando ele viu o edificio pela primeira vez, disse que "tal beleza fez o sol e a lua chorarem lagrimas dos seus olhos". Os seus ultimos anos de vida foram passados num transe permanente observando os detalhes da sepultura da sua amada.

Detalhes do Taj

O edificio tem detalhes impressionantes que devem ser vistos com atencao. Desde a ligeira inclinacao das torres, para que em caso de terramoto nao caiam em cima do precioso edificio, bem como magnificos trabalhos artesanais na marmore branca.

Detalhes do Taj
Torre de vigia, ligeiramente inclinadaDetalhes do Taj

Com a lenda, vieram os mitos. Entre varias coisas disseram que o emperador Shah Jahan queria construir um Taj Mahal em marmore preta no outro lado do rio onde em teoria seria a sua sepultura depois de morrer, mas nao pode realizar o seu projecto pois foi retirado do trono pelo seu filho. Varias escavacoes levadas a cabo na zona onde deveria estar parte da construcao de este edificio de marmore preta nunca encontraram vestigios de tal templo. Outra coisa que dizem e que o emperador, homem excentrico, mandou cortar as maos e queimar os olhos aos trabalhadores do templo, para evitar que voltassem a construir algo tao bonito outra vez. Felizmente nenhuma prova historica prova este facto.

Para alem do Taj Mahal, outro edificio historico imperdivel em Agra e o Forte de Agra, o forte mais importante da India, por todos os acontecimentos de que foi testemunha. Foi aqui que o emperador foi preso numa torre depois de ter sido retirado do trono pelo seu filho.

Agra fort
Dentro de Agra fort
Agra fort

Agra em geral nao e uma cidade muito bonita, mas e boa para passar um par de dias e relaxar com boa comida indiana e ver as caoticas ruas apelando aos turistas para que lhe comprem algum souvenir.

Proximo destino Jaipur. Durante os proximos dias vou estar incontactavel, pois decidi ir para um Ashram e fazer um curso de meditacao (www.dhamma.org). Durante 10 dias, nao poderei falar com ninguem sem ser o professor, nem ler, nem ouvir musica nem escrever, nem conversar. Serao 10 dias de muito trabalho, de aprendizagem, de dedicacao a uma tecnica de meditacao antiga. Depois disso serei outra pessoa com toda a certeza, pois a vida esta em constante mudanca e tudo o que se aprende muda-nos de alguma forma. Vale a pena dar uma olhada no site, pois estes centros estao por todo o mundo e ensinam a tecnica de meditacao mais antiga da India - Vipassana (e tambem a que Buddha usou para chegar ao Nirvana). Os cursos sao gratis a troca de doacoes para quem quiser dar alguma coisa no final.

Ate jazzzzzzz!!!!!!!!!!